«O Lumiar fica quase adentro de portas a vila, lá fora é o Senhor Roubado e todas as pitorescas varzeas de Odivelas e arredores. É uma campina verde agora perdida pelas linhas da circunvalação, toda uma beleza evocativa que se busca aniquilar.
À saída da aldeola rústica fizeram um matadouro cuja prosa é quebrada pelo cantinho histórico, onde ainda arde uma lâmpada iluminando os azulejos sagrados.
No tempo de D. Afonso VI, quando o rei ia por Odivelas em cata dos olhares e dos carinhos da bela soror Feliciana de Milão, houve certo individuo, mal afamado, de ruim porte, que roubou uma imagem no convento com algumas caixas de sacras partículas e receando das justiças as foi enterrar no local onde mais tarde se levantaram os símbolos atestados desse atentado.
O homem foi enforcado depois de todas as cerimónias e castigos próprios do acto e ainda hoje os forasteiros podem ver à saída do Lumiar os transes por que ele passou, marcados sinistramente nesses azulejos que as pedradas dos garotos têm destruído em parte. São todos os seus tormentos, desde a prisão à forca que ali se expõem, enquanto, nas noites, a lâmpada talvez ainda desse tempo da crença, alumia um pequeno nicho e espalha claridades sobre as cenas pintadas na ladrilhagem.
As portas da cidade ficam a dois passos, pela nova reforma fiscal e nelas se especam os guardas, tirando todo o encanto dessa natureza magnificamente pródiga do lugar.»
Fonte: Revista Illustração Portugueza, nº 91, II Ano, 31 de Julho de 1905.
O monumento do Senhor Roubado, 1905
A fonte de Carriche, 1905
A fonte do Senhor Roubado, 1905
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Uma eira: joeirando o trigo |
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Uma eira: o esmoinhar do trigo |
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