quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Restaurante Típico “Lobos do Mar” (Antigo Solar do Marceneiro)

O restaurante típico "Lobos do Mar" abriu portas por volta de 1955, na casa onde tinha existido anteriormente o "Solar do Marceneiro".

Ficava situado ao fundo da Calçada de Carriche, na estrada que segue para Odivelas, junto ao monumento do Senhor Roubado, na localidade de Olival Basto. Este era um lugar consagrado ao fado.

                     

(1957) Diário de Lisboa, n.º 12328, Ano 36, terça-feira, 2 de Abril de 1957, Fundo: DRR - Documentos Ruela Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares.

O nome "Lobos do Mar" faz lembrar um filme americano (Captains Courageous, no título original) realizado por Victor Fleming em 1937, baseado num livro de Rudyard Kipling de 1897. É um drama que tem como cenário a pesca do bacalhau nos Mares da Terra Nova e conta a história de um jovem, filho de um milionário nova-iorquino, que é salvo de um naufrágio, por um pescador português, depois de um desastre marítimo num paquete de luxo, onde faziam um cruzeiro. A bordo de um barco de pesca, com o pescador português, aprende o jovem a gostar das coisas simples, na vida dura do mar.

"Lobos do Mar" é também o nome de um fado tradicional (Fado Margarida) cantado pelo fadista Frutuoso França, com letra de Francisco dos Santos e música de Miguel Ramos, que conta a história de um rapazinho, que foi salvo numa praia, por um pescador.


Ouvir o fado no site: https://www.youtube.com/watch?v=lQSA3D-fI-8


"Lobos do Mar" apela a uma relação lendária do fado com o mar, a viagem.

Faz-nos recordar o "Fado Português" de José Régio.

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava… 

(José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo')

Embora neste lugar não houvesse a proximidade do mar, existia uma relação com a vila da Nazaré. Neste restaurante típico havia fados e danças regionais aos domingos com um rancho folclórico da Nazaré.

Neste recanto tradicional do fado tocaram excelentes músicos, como: o popular acordeonista Isidro Baptista, o guitarrista Carlos Gonçalves, e o violinista e guitarrista José Inácio, que também cantava o fado.

                                           

Isidro Baptista (natural de Torres Vedras, 1929-1979) foi um exímio acordeonista português, que iniciou a sua carreira musical neste restaurante, tendo alcançado fama por todo o país nas décadas de 60 e 70 do século XX.



Carlos Gonçalves (natural de Beja, 1938)
«Em 1957 quando se desloca para Lisboa, Carlos Gonçalves entra na vida artística mercê da sua destreza técnica, que lhe permitiu imediatamente acompanhar grandes fadistas da época, tendo sido contratado para a "Adega da Anita" de onde passou mais tarde para os "Os Lobos do Mar”, na Calçada de Carriche, acompanhando muitas das grandes figuras do Fado, entre as quais Alfredo Marceneiro, Filipe Pinto, Maria Teresa de Noronha. Lucília do Carmo, Argentina Santos, Fernando Maurício, Fernando Farinha, Fernanda Maria e Beatriz da Conceição.»
(Site Oficial de Carlos Gonçalves   http://www.carlosgoncalves.com.es/12/pt_main_12.htm)


José Inácio (natural de Idanha-a-Nova, 1928-2015)

Era funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, mas tocava frequentemente em diversas casas de fado de Lisboa: Café Salvaterra, Retiro dos Marialvas, Patrício, Lobos do Mar, Tradição, Pampilho, Retiro da Bairrada, Parreirinha do Rato, Nau Catrineta, Viela, Solar da Hermínia e também na “Tipóia”, Ritz Club, Cristal e Olímpia.
(Site Museu do Fado: 
http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=317 )



terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Solar a Tradição (Antigo Marceneiro) 1950-1951

Um dia o “Solar do Marceneiro” mudou de nome. Passou a chamar-se “Solar a Tradição”, também apresentado apenas como “Solar Tradição” (Antigo Marceneiro).

Abriu as suas portas em 9 dezembro de 1950, na mesma casa onde antes tinha existido o “Solar do Marceneiro”.

Ficava situado ao fundo da Calçada de Carriche, ao princípio da estrada que seguia para Odivelas, junto ao monumento do Senhor Roubado, numa casa que já foi demolida.

(1950) Diário de Lisboa, n.º 10066, Ano: 30/Data: Sexta-feira, 8 de Dezembro de 1950, Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares.

Tal como acontecia noutros retiros do fado, aqui a direção artística mudava com frequência. Era uma forma de oferecer um programa de fados variado aos seus clientes habituais. Com a mudança da direção artística renova-se também o elenco artístico. Inicialmente a direção artística ficou a cargo do fadista Manuel Fernandes, que já estava à frente do “Solar do Marceneiro”. Faziam parte do elenco as “cantadeiras” Olinda Janete e Mariana Silva, acompanhadas pelos músicos José Ramos e Orlando Silva.

Alfredo Marceneiro tinha deixado o seu retiro do fado, para se dedicar à direção artística do Restaurante Nova Sintra também ao fundo da Calçada de Carriche e que ele tinha inaugurado. E nesta altura, cantavam no Nova Sintra Alfredo Marceneiro, o seu filho Alfredo Duarte Júnior, Maria de Lourdes e Luís dos Santos, acompanhados à guitarra por José Marques e à viola por Armando Silva.

Mas Alfredo Marceneiro continua a ser convidado para cantar em várias casas de fado de Lisboa. E… passado algum tempo voltaria a ficar à frente do seu retiro do fado.

A partir de 8 de janeiro de 1951, houve uma mudança na direção artística para Mário José Paninho, que tinha estado à frente do Retiro Malhôa na Quinta de São Lourenço em Carnide, até ao final de 1950. E com ele vêm as fadistas Natividade Lopes, Maria de Lurdes Fernandes e Adelina da Conceição, com o acompanhamento de José Ramos e Orlando Silva.

No mês de fevereiro de 1951, o Solar Tradição alterou a sua programação musical e introduziu alguma inovação, com um género musical novo que oferecia «música para todos e a pedido de todos». O seu elenco artístico passou a ter um conjunto musical com Tavares ao piano, Strompa no acordéon e Manecas como vocalista e também as vozes das cantadeiras Olinda Janete e Fernanda Barros.

(1951) Diário de Lisboa, n.º  10124, Ano: 30, Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 1951, Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares

Em março de 1951, a fadista Maria Marques assumiu a direção artística, com um elenco do qual faziam parte as fadistas Natividade Lopes, Maria de Lurdes Fernandes e outros artistas acompanhadas pelos músicos Américo Domingos e José Inácio.

No mês de abril voltou o fadista Manuel Fernandes a assumir a direção artística deste retiro.

No início de junho foi o regresso do fadista Mário José Paninho que ficou à frente do elenco de fadistas, acompanhados pelos músicos João Vieira e José Ramos.

A partir de 13 de Junho a direção artística passou para a fadista Berta Cardoso “a voz de ouro”, com a colaboração de Mário Paninho.

No final de agosto de 1951, Alfredo Marceneiro regressou ao seu retiro, que passou a chamar-se outra vez “ Solar do Marceneiro”.



sábado, 19 de dezembro de 2015

Retiro do fado “O Solar Alfredo Marceneiro” (1948-1952)

O Solar do Marceneiro foi um dos afamados retiros do fado fora de portas, onde se ouvia  o fado antigo, cantado pelo seu proprietário Alfredo Marceneiro e outros fadistas da época.
Foi inaugurado no dia 27 de Novembro de 1948.
Estava situado ao fundo da Calçada de Carriche, ao princípio da Estrada de Odivelas, junto ao monumento do Senhor Roubado.  Ficava próximo de outro retiro de fados, que existia na Calçada de Carriche e também tinha sido inaugurado por Alfredo Marceneiro, o "Nova Cintra".

(1948), "Diário de Lisboa", nº 9340, Ano: 28, Sábado, 27 de Novembro de 1948, Fundo Documentos Ruela Ramos, Fundação Mário Soares.

Neste retiro do fado cantaram os conceituados fadistas: Áurea Ribeiro, Berta Cardoso, Maria da Saudade, Fernando Farinha, Mário Paninho, Júlio Vieitas, Maria da Conceição, Mariana Silva, Maria Ferreira, Maria Marques, Carlos Duarte (o Pirolito da Ericeira), Manuel Fernandes, Adelaide Faria. E tocaram excelentes músicos: Casimiro Ramos, Pais da Silva, Armando Silva, José Marques (Piscalareta), Ilídio Santos, Fernando Oliveira, José Ramos, Orlando Silva, Acácio Rocha, Carlos Neves e João Viera. 

NoAlfredo Marceneiro no "Solar do Marceneiro" na Calçada de Carriche, com os filhos Alfredo e Rodrigo

Alguns destes fadistas revezaram-se na direção artística desta casa de fados.
Desde a abertura até setembro de 1949, a gerência esteve a cargo de Alfredo Marceneiro, que era o seu proprietário.
A 17 de setembro de 1949, a direção artística passou a ser assumida pela conceituada fadista e Áurea Ribeiro, que também esteve à frente do retiro Nova Sintra.
Mas a 1 de Outubro de 1949 a direção artística ficou a cargo da conhecida fadista Berta Cardoso, que se manteve até 26 de janeiro de 1950.
A 26 de Janeiro de 1950, Alfredo Marceneiro voltou a assumir a direção artística da sua casa de fados, mas não deixa de cantar também noutras casas de fado.
A 23 de Novembro de 1950, assume a direção artística o fadista Manuel Fernandes e fazem parte do elenco, as fadistas Mariana Silva e Adelaide Cardoso, acompanhadas pelos músicos José Ramos e Orlando Silva.
De 7 de dezembro de 1950 a agosto de 1951, este retiro passou a chamar-se “Solar Tradição”, com a direção artística de Manuel Fernandes.
A 31 de Agosto de 1951, volta a ser "Solar do Marceneiro", com a direção artística de Alfredo Marceneiro e a colaboração do animador Mário Paninho. Alfredo Marceneiro manteve-se na direção artística até ao final de dezembro de 1951.
A partir de Janeiro de 1952 teve a direção artística de Mário Paninho, acabando por encerrar as suas portas no final de abril de 1952.
Nessa altura, Alfredo Marceneiro é convidado para o "Olimpia Club", na rua do Condes em Lisboa, que inaugura um restaurante com jantares e ceias animados com fados e guitarradas.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Uma Escola para Carriche por Iniciativa de Nova Cintra.

Em  1884!


«Não sei se alguém   em Lisboa, que não tenha ouvido falar da calçada de Carriche, e da afamada vivenda do Theotonio. Retiro o senhor por ser moda no tempo presente, quando se trata das celebridades.

Que tardes e que noites não seriam capítulos significativos do livro que narrasse a história daquela vivenda, história vulcânica da sociedade que fulgura um dia, que sorri por instantes e que se vê perdida, quando lhe devia estar a juventude no vigor da florescência!  A toute chose, malheur est bon.

Um dia a calçada de Carriche, no meio dos seus delírios, ao ruído dos seus hurras, desatou um brado redentor. Na orgia surgiu um momento de virtude, e aquelas paredes ouviram espantadas uma palavra:

- Escola! Escola!

A mocidade que de Lisboa ia ali divertir-se, quotizava-se, juntava num mealheiro as sobras dos seus passatempos, e fundava uma escola para instruir e moralizar crianças pobres e dar-lhes fato com que a pudessem frequentar. 

Propagou-se a ideia formosa, progrediu a aula salvadora, acudiram novos subscritores, já então de todas as idades e classes, e em 1862 a escola de Carriche convertia-se no que hoje é o "Asilo da Infância Desvalida do Lumiar” para as crianças pobres da freguesia. 

Poucos anos depois, a associação construía um edifício próprio, tendo empregado uma vontade de ferro, conseguia do Brasil donativos importantes, promovia bazares anuais; e hoje, auxiliado por muitos cidadãos, o instituto possui um capital superior a 30:000$000 réis em inscrições.»

Macedo, Costa de Souza de. Auroras da Instrucção Pela Iniciativa Particular.1884. Reprint. London: Forgotten Books, 2013. 208-9. Print.


Diálogos sobre Carriche, Nova Cintra (II)

«Há muito tempo… isto é, dês que foi a Maria da Fonte e último justiçado, que não apareceu em Lisboa coisa que desse, a toda a gente, mais que falar, de que a parte do código civil, que diz respeito ao casamento civil, ultimamente em discussão na imprensa periódica, no parlamento, e na opinião pública !!!

Entra a gente no barbeiro, o mestre prepara-se para nos escanhoar cientifica e teoricamente por um pataco e diz-nos:

- Então, o que nos diz o senhor ao casamento civil?

Vai uma pessoa ao teatro da rua dos Condes, compra um bilhete de assinatura, ao Faria camaroteiro, paga-o e quando se dispõe a entrar na plateia, diz-nos o camaroteiro:

- Então o que nos diz o senhor ao casamento civil?

Vamos à Nova Cintra, chamamos o amável Theotónio de Carriche, ele aparece jovial como uma freira que foi eleita abadessa, encarece-nos a água da mina, conta-nos duas histórias em vigésima edição, e depois de lhe pedirmos a “meia assada” e “pato com arroz” e de gritarmos pela sr.ª Thomázia para nos servir azeitonas e conserva-brejeira, pergunta-nos o ratão do Theotónio:

- Então o que nos diz o senhor do casamento civil?»

In Casamento civil?  Coisas para rir, narrativa de ocasião, Lisboa, Livraria Verol, 1866.

Diálogos sobre Carriche, Nova Cintra (I)

Na literatura do século XIX encontramos vários diálogos, que nos remetem para o ambiente de Carriche, Nova Cintra.

Quem leu "O Primo Basílio" de Eça de Queirós, publicado em 1878, um romance de sátira aos costumes da burguesia lisboeta, talvez se recorde deste diálogo entre as duas personagens, Leopoldina e Luísa.

«Luísa falou vagamente dos deveres, na religião. Mas os deveres irritavam Leopoldina. Se havia uma coisa que a fizesse sair de si - dizia - era ouvir falar em deveres!...

- Deveres para quem? Para com quem? Para um maroto como o meu marido?

Calou-se e passeando pela sala, excitada:
- E quanto a religião, história! A mim me dizia o Padre Estêvão, o de luneta, que tem os dentes bonitos, que me dava todas as absolvições, se eu fosse com ele a Carriche!

- Ah, os padres... murmurou Luísa.

- Os padres quê? São religião! Nunca vi outra. Deus, esse minha rica, está longe. Não se ocupa do que fazem as mulheres.»

domingo, 13 de dezembro de 2015

Restaurante Típico "O PAMPILHO" 1956-1958

      O Restaurante Típico "O Pampilho" ficava situado na Calçada de Carriche n.º111 C e D, no edifício onde anteriormente tinha existido o Restaurante Nova Sintra.

   Fotografia de Artur João Goulart, 1965, Arquivo Municipal de Lisboa 
      
       Foi inaugurado a 12 de Junho de 1956, na véspera de Santo António e encerrou no verão de 1958.
     
Apresentava-se como um restaurante típico fora de portas, com boa comida e bom fado e estava aberto toda a noite.

 
(1956), "Diário de Lisboa", n.º 12039, Ano 36, Terça-feira, 12 de Junho de 1956, 
Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares.

      Este restaurante estava associado a uma outra casa de fado de Lisboa, “O Faia” e o seu proprietário era o empresário Alfredo de Almeida, marido da fadista Lucília do Carmo.

     Encerrou em agosto de 1957 e voltou a abrir em 2 de maio de 1958, sob a gerência do Restaurante Tricana, que estava instalado na Feira Popular de Lisboa. 
    
    E acabou por encerrar definitivamente no final de 1958.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O SOLAR DA TIBURCIA

O Restaurante “Solar da Tiburcia”, situado na Calçada de Carriche n.º 111-C, no mesmo local onde tinha existido o restaurante típico “Nova Sintra”, foi inaugurado no dia 18 de Junho de 1955 e encerrou no mesmo ano. 

Era uma casa de fados e guitarradas aberta até de madrugada.

Neste restaurante cantava a fadista Áurea Ribeiro e o fadista Alfredo Duarte Júnior, filho do grande fadista Alfredo Marceneiro, como indica um anúncio publicado no Jornal Diário de Lisboa.


(1955), “Diário de Lisboa”, n.º 11686, Ano: 35, Sábado, 18 de Junho de 1955, Ed: 1.ª edição, Fundo: Documentos Ruella Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares

O RESTAURANTE NOVA SINTRA

O Restaurante de Nova Sintra situado na Calçada de Carriche, na Quinta de Nova Cintra que lhe deu o nome, foi inaugurado a 4 de Setembro de 1948.

    Era um restaurante típico com uma ampla sala, uma esplanada muito arborizada e um parque privativo para automóveis, às portas de Lisboa, onde se cantava o fado todos os dias, até de madrugada.

A entrada para o parque privativo de automóveis e para a esplanada fazia-se pelo n.º 109-A da Calçada de Carriche e o salão do restaurante tinha os números de porta: 111-A, B e C.

Foi nesta época que na Calçada de Carriche se passou a reviver a tradição da boémia lisboeta, que no século XIX tinha  o costume de se concentrar nos retiros das hortas a comer a beber, a ouvir o fado à espera dos touros, que vinham de Frielas e atravessavam a cidade até à praça do Campo de Santana. Neste mesmo local tinha existido um “retiro das hortas” com o nome de Nova Cintra, que data de 1856.

     Alfredo Marceneiro foi o fadista convidado para a inauguração, passando a cantar todas as noites neste restaurante e a assumir a direção artística.

(1948), “Diário de Lisboa”, n.º 9257, Ano: 28, Sábado, 4 de Setembro de 1948, Ed: 1.ª edição, Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares

Este restaurante passou a ser um ponto de encontro dos apreciadores do fado antigo.

Por aqui passaram as mais admiradas figuras do fado como Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha, Hermínia Silva, Manuel Fernandes, Carlos Ramos, Carlos Duarte (o pirolito da Ericeira), Adelina Ramos, Maria Carmen, Ilda Silva, Maria da Saudade, Fernanda Baptista cantora e actriz de teatro e muitos outros.
Alfredo Marceneiro manteve-se à frente dos fadistas do Nova Sintra até à abertura do seu restaurante “O Solar do Marceneiro”.

       Então, o grande animador deste castiço restaurante-esplanada passou a ser Fernando Farinha, que ficou conhecido como o “Miúdo da Bica”.

(1948), “Diário de Lisboa”, n.º 9297, Ano: 28, Sexta-feira, 15 de Outubro de 1948Fundo: Documentos Ruella Ramos, Arquivo da Fundação Mário Soares
 
Foi neste castiço restaurante-esplanada que o fadista Fernando Farinha festejou o seu 20.º aniversário natalício, em 20 de Dezembro de 1948, num jantar que foi presidido pela conhecida fadista Hermínia Silva, com a colaboração de diversos artistas do teatro, do fado e da rádio e com a direção artística do poeta popular João Linhares Barbosa.
 
No dia 20 de Outubro de 1949, foi organizada uma festa de homenagem à fadista Hermínia Silva com a inauguração da sala “Hermínia Silva”. Participaram no programa desta festa, além desta popular atriz e cantadeira “Hermínia Silva”, outras grandes figuras do fado: Lucília do Carmo, que tinha a sua casa de fado “A Adega da Lucília do Carmo”, na rua da Barroca, no Bairro Alto, Maria do Carmo que era antiga proprietária da casa de fado “Ferro de Engomar”, Júlio Proença, Áurea Ribeiro e o poeta popular Linhares Barbosa.

      No dia 26 de dezembro de 1949 realizou-se neste famoso restaurante uma ceia e um espectáculo de homenagem ao actor Vasco Santana, com a colaboração de artistas de teatro, fado e da rádio e um grupo de fadistas.

A proprietário deste restaurante era Álvaro Anselmo de Oliveira, que tinha a alcunha de “Álvaro do Cão”.
 
Na direção artística deste restaurante estiveram diversos fadistas conceituados: Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha e Áurea Ribeiro.

      Aos domingos a ementa era especial: caldo verde à transmontana e à alentejana, mariscos de todas as qualidades, gradum de pescada e cabrito à Bairrada. Mas a especialidade da casa era o famoso “Leitão assado à Nova Sintra”.

       Apesar de ter tido grande sucesso, este restaurante acabou por encerrar em 1952 e no mesmo lugar abriu um outro restaurante típico.

O FADO FORA DE PORTAS EM CARRICHE

No século XIX os Lisboetas tinham por hábito sair da cidade e ir fora de portas às hortas, às esperas de touros e aos retiros onde havia fado e guitarradas, pela noite fora.

Esta tradição perdeu-se com o passar do tempo, mas foi retomada no final dos anos quarenta do século XX, quando começaram a surgir vários retiros do fado nas portas de Carriche. 

Primeiro surgiu o Nova Sintra, depois o Solar de Alfredo Marceneiro, o Restaurante típico O Patrício, o Solar Tradição, Os Lobos-do-Mar, o Roseiral e outros menos conhecidos.

Hoje passados cerca de sessenta e cinco anos, já são poucos os que se lembram destas casas de fado e ainda menos os que sabem onde ficavam.

A paisagem mudou muito. Os edifícios degradaram-se com o passar do tempo e acabaram por ser demolidos. A velha aldeola de Carriche, às portas da cidade de Lisboa, como zona de fronteira aduaneira, perdeu esta função de suporte logístico e foi desaparecendo com a construção de novas estradas.

Por isso, fiquei fascinada por Carriche e resolvi partir à descoberta das memórias das velhas casas de fado que por aqui existiram.




sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Vamos para Carriche, a Nova Cintra!

No séc. XIX havia ao fundo da calçada de Carriche a Quinta Nova Cintra, com um “retiro das hortas”, que aí se instalou por volta de 1856. Ali paravam os transportes que circulavam de Lisboa para norte, a caminho de Loures e Torres Vedras. 

A reconstituição da história e das memórias deste sítio, só é possível através da análise de pequenos trechos dispersos na literatura do séc. XIX e do início do séc. XX.

Pertenceu esta quinta a José Joaquim Leite Guimarães (1808-1870) natural da freguesia de São João Baptista de Pencêlo, Guimarães, que emigrou para o Brasil e por lá fez uma avultada fortuna. Quando regressou a Lisboa, em 1852, comprou esta quinta situada na Freguesia de S. João Baptista do Lumiar, nos arredores da cidade (extramuros). O nome desta quinta está na génese do título de Barão de Nova Cintra, com o qual o distinguiu o Rei D. Luís I, por Decreto de 8 de Abril de 1862, por importantes serviços prestados ao pais.

Todos os roteiros de viagem do séc. XIX recomendam a passagem pela Quinta de Nova Cintra, como um ponto importante para ser visitado pelos viajantes, que vêm a Lisboa.

O Guia Luso-Brasileiro do Viajante na Europa refere o seguinte: «Calçada de Carriche, eis aqui onde se vê a formosa Quinta, baptizada com o nome mimoso de Nova Cintra é uma casa de pasto, que passa por ser a melhor extramuros de Lisboa. É preciso examinar esta bela quinta para encarecer o seu justo apelido. Continuando o passeio passa-se por um tosco monumento que comemora o desacato de Odivelas, e o suplício atroz de um delinquente. Odivelas, lugar notável somente pelo convento de freiras e sua ótima marmelada.»

Em 1862, Vilhena Barbosa na sua obra Fragmentos de um Roteiro de Lisboa e Arrabaldes de Lisboa apresenta uma descrição do sítio «Regressando do Paço do Lumiar à Estrada Real, e prosseguindo nela, desce-se a Calçada de Carriches, que é um lugar de 24 fogos, e pouco mais de 90 moradores, compreendidos na Freguesia de S. João Baptista do Lumiar. No fundo da Calçada está uma hospedaria, que se ataviou com o pomposo título de Nova Cintra. Não quadra muito bem o título, quer ao sítio, quer ao estabelecimento, pois que o primeiro carece de beleza e de arte, e o segundo de mais atrativos e comodidades. Todavia, ambos têm tido alguns melhoramentos, e podem ter muitos outros, que virão com o tempo, visto que lhes não falta a concorrência de público. Pouco adiante da Nova Cintra, em sítio plano, há um largo onde a estrada se divide em dois ramais. O que segue direito conduz à Póvoa de Santo Adrião, Mealhada, Loures, e outras terras dos arrabaldes de Lisboa, e depois a Torres Vedras. O da esquerda leva o viajante ao lugar de Odivelas, e a várias outras aldeias.»

No Novo Guia do Viajante em Lisboa e seus Arredores, encontra-se esta referência: «Calçada de Carriche, encontra-se uma formosa quinta, batizada com o nome de Nova Cintra, e a melhor casa de pasto extramuros de Lisboa, ruas de bem copado arvoredo, solitários caramancheis, uma serra com um belo caminho, praticamente por entre canaviais, no alto dela um mirante para descansar daquela ascensão, água puríssima e sempre fresca rebentando em abundância, ao lado de óptimos frutos e flores variegadas – eis aí a Nova Cintra, que bem merece o seu atrevido nome. A mesa é bem servida em pequenas salas de uma habitação unida à quinta, ou em algum dos Kioskos, ou mesmo nas ruas de arvoredo se assim o quereis. Dirigindo-se deste lugar para Odivelas, encontra-se no caminho um tosco monumento e a sua história escrita e figurada em azulejo; é a memória de um desacato e roubo perpetrado no convento de Odivelas, e do suplício atroz do delinquente.»

No Roteiro do Viajante no Continente e nos Caminhos de Ferro de Portugal encontra‑se outra referência a esta quinta: «Terminamos com Nova Cintra, ponto obrigado para ser visitado por todos os viajantes, que vêm a Lisboa e que dificultosamente deixam de ir a Nova Cintra. Nada pode justificar este título; mas a moda concedeu-lho, e por isso não há remédio senão sujeitar-se a gente aos seus caprichos. A Nova Cintra é uma pequena quinta com agradáveis passeios e uma boa casa de pasto. Para nós só tem um merecimento, e é poder servir de exemplo, na escola da vida para provar o que é a constância no trabalho e na indústria, porque de um ordinário e pouco rendoso casal, conseguiu o actual proprietário fazer uma boa e valiosa propriedade e recebeu em recompensa das suas fadigas e lavores, deixar a adversidade de o perseguir, e ser hoje naquela localidade querido e festejado por uns, adulado e invejado por outros.»

Pinho Leal no livro Portugal Antigo e Moderno refere o seguinte: «Carriche ou Calçada de Carriche - aldeia da Estremadura, freguesia de São João Baptista do Lumiar, termo, distrito, comarca e 8 km ao NO de Lisboa, 24 fogos, 90 almas. Situada sobre a estrada real, que de Lisboa conduz a Loures, e próximo do Lumiar e também na estrada para Odivelas (que é a mesma do Lumiar). No fundo da Calçada de Carriche está uma hospedaria que pomposamente se intitulou de “Hotel Nova Cintra”. É por isso que muita gente vai chamando a este sítio Nova Cintra. Em Nova Cintra é a quarta estação do caminho de Ferro Larmanjat de Lisboa a Torres Vedras. Tem esta povoação tido bastantes melhoramentos, e, como é muito concorrida das famílias de Lisboa (principalmente no verão), é bastante provável que ainda venha a merecer o nome de Nova Cintra.»

João Maria Baptista, na sua obra Choreographia moderna do reino de Portugal, afirma o seguinte: «Não devemos deixar em esquecimento nesta F. do Lumiar o belo sítio da calçada de Carriche, muito concorrido no verão, onde há o novo hotel da Esperança, e mais abaixo o da Nova Cintra pertencente ao Sr. Theotonio, que há poucos anos era muito concorrido, e que hoje é vivenda agradável e de frescas sombras em uma tarde de estio, por ficar na estreita garganta entre as duas pequenas serras d’Ameixoeira e Alcoutins.»

Esta estalagem e casa de pasto também está associada à história do fado e às esperas de touros, sendo referida por diversos autores que abordam estas temáticas. Sousa Bastos afirma que: «Durante muito tempo, aos sábados à tarde e à noite, foi uma grande diversão a espera dos touros. Era um pretexto (...). A melhor roda ficava no Campo Grande, no Cá e Lá, taberna afamada, ou na Calçada de Carriche, no popular Teotónio.» 8

As esperas de toiros e as touradas faziam parte dos costumes dos habitantes da cidade de Lisboa, praticamente desde o século XIV, e persistiram até aos finais do séc. XIX. Na literatura olisiponense encontramos relatos da agitação provocada pela passagem das manadas de touros a caminho das praças do Salitre e do Campo de Sant’Ana, e mais tarde do Campo Pequeno. Os touros provenientes das lezírias eram conduzidos por batedores e campinos desde Frielas, subindo a Calçada de Carriche e atravessando o Campo Grande, ou através da estrada de Sacavém. A condução do gado bravo para o Campo de Santana tinha o seu início à terça-feira, quando os toiros levantavam das lezírias com destino a Frielas, onde descansavam até sexta-feira, à noite. No sábado pelas cinco horas da tarde, iniciava-se o percurso até ao Campo Pequeno, onde permaneciam, junto ao Palácio Galveias até à uma hora da madrugada. Ao longo deste percurso, desde Carriche até ao Arco do Cego, instalavam-se os retiros e as casas de pasto, locais de convívio e de patuscadas, nos quais se juntavam os aficionados, os boémios e os fadistas na noite anterior à chegada dos touros, sendo as mais preferidas a Nova Cintra, Patusca, José dos Santos, Quebra Bilhas, Colete Encarnado, António da Joana. 9

Tomaz de Mello num pequeno livro sobre As Esperas de Touros em Carriche faz uma descrição impressionante do ambiente que se vivia nesta quinta, nessa época: «Desde o meio-dia que principiavam a afluir os trens e os cavaleiros para Nova Cintra. Era um espectáculo atraente. Sob os caramanchões, tapados de hera e boungainville, mesas cobertas por alvíssimas toalhas, esperavam os convivas. Trajes policromos, destacando-se por entre a verdura, davam nota colorida ao recinto de Nova Cintra e, entre a alegria rumorosa da conversação e o tilintar dos vidros, vinham, como sons de harpa eólica trazidos pela vibração, as notas plangentes e cismadoras das banzas, gemendo fados para os lados da mina, vibrados à sombra dos valados que se vestiam de madressilva e rosas silvestres. (...) Pelas quatro da tarde corria tudo para o muro da propriedade! Era a hora em que se largava o gado das pastagens das Marnotas. Carros com seus fregueses preparavam-se para buscar o curro, outros seguiam até ao Senhor Roubado, fazendo horas para a passagem, indo depois no couce.» 10

Era assim que o universo da tauromaquia se associava ao ambiente cultural do fado, em locais de convívio onde se misturavam fidalgos, cavaleiros, camponeses, operários, prostitutas e fadistas. 

Segundo Pinto Bastos «Nas sucedâneas de 1846, já se guitarreava o fado, como sucedia na Horta das Tripas (…). E esta tradição do fado manteve‑se nas hortas das épocas posteriores: João da Bateira, António das Noras, em Arroios, Quintalinho da travessa do Pintor, Theotónio da Calçada de Carriche ou Nova Cintra (onde se ia em burricadas) a Joana do Colete Encanado, no lado oriental do Campo Grande (que passou depois para a azinhaga da Torre, no Lumiar).» 11


O proprietário do Hotel Nova Cintra foi também um benemérito, já que o seu nome aparece associado a uma obra de beneficência, o Asilo da Infância Desvalida e dos Pobres do Lumiar, criado no reinado de D. Pedro V, seu patrono. «Teve início numa comissão de beneficência fundada pelo antigo proprietário do Hotel Nova Cintra, na calçada de Carriche, Theotónio Victorino D´Assumpção. À custa do produto de bazares de caridade e de donativos diversos, começou desde 1857 a sustentar, vestir e educar 4 crianças do sexo feminino e a dar anualmente um bodo a 80 raparigas do Lumiar.» 12 

Ficamos a saber que Theotónio Victorino D'Assumpção, mais tarde, deixou o Hotel Nova Cintra e foi estabelecer-se no Campo Grande, através da literatura sobre a história do fado e das esperas de touros. Alberto Pimentel, na sua obra A triste canção do sul, fala-nos do fado de Carriche, descrevendo o sítio como «Pequena povoação da freguesia do Lumiar, arrabalde de Lisboa, Carriche é um sítio muito frequentado por ocasião das esperas de touros, posto já o fosse mais, quando ali havia, ao fundo da calçada, o Hotel de Nova Cintra, com uma bela horta para comezainas ao ar livre (…) Hoje o dono do Hotel veio estabelecer-se no Campo Grande. No sítio, apenas restam algumas tascas, que ainda assim fazem bom negócio em noitadas de touros, e que são habitualmente visitadas pelos saloios que ali passam.» 13 

Por volta de 1948, foi retomada a tradição das casas de pasto e das noites de fados e guitarradas na Calçada de Carriche e nesta quinta instalou-se o restaurante Nova Sintra. 

Alguns anos mais tarde, o mesmo edifício foi ocupado pelo restaurante O Pampilho, bastante conhecido no ambiente fadista. 


Montagem a partir de Fotografias de Artur Goulart, 1965, Arquivo Municipal de Lisboa


O edifício foi demolido em 1970, para alargamento da Calçada de Carriche.

Hoje, a vegetação cobre toda a encosta, e o tempo apagou os vestígios desta quinta. 

Só um olhar mais atento descobre uma passagem ...



Fotografia de Miguel Henriques, 2015




1 SAMAGAIO, Estevão (S.D.) José Joaquim Leite Guimarães Barão de Nova Sintra, Santa Casa da Misericórdia do Porto.
2 LEMOS, Ignácio Manuel, (1859) Guia Luso-Brasileiro do Viajante na Europa, Tipografia de António José Silva Teixeira, Porto, pág. 23.
3 BARBOSA, Vilhena (1862), Fragmentos de um Roteiro de Lisboa (Inédito) Arrabaldes de Lisboa, in Archivo Pittoresco, Semanário Illustrado, Editores e Proprietários Castro Irmão & C.ª, Lisboa, Vol. VI, p. 326-328; 332-333.
4 BORDALO, Francisco Maria (1863) Novo Guia do Viajante em Lisboa e seus Arredores: Cintra, Colares, Mafra, Batalha, Setúbal, Santarém, etc. (segunda edição aumentada), Editor J. J. Bordalo, Lisboa, pág. 163-164.
5 ABREU, João António Peres, (1865) Roteiro do Viajante no Continente e nos Caminhos de Ferro de Portugal, Imprensa da Universidade, Coimbra, pág. 132.
6 PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa, (1874) Portugal Antigo e Moderno, Vol. II, ed. Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, Lisboa, pág. 127-128.
7 BAPTISTA, João Maria (1876) Chorographia moderna do reino de Portugal, Volume 4, Typographia da Academia Real das Sciencias, Lisboa, pág. 740.
8 SOUSA BASTOS, António (1947) Lisboa Velha: sessenta anos de recordações 1850 – 1910, pág. 106. 
9 CARMO, José Pedro, (1926) Touros: Arte Portuguesa, Livraria Popular de Francisco Franco; ABREU, Carlos, (1908) Esperas de Touros, Revista Serões n.º 37, Julho, pág. 3-18.
10 MELLO, Tomáz, (1874) A Espera de Touros em Carriche, Scenas Lisboa.
11 PINTO DE CARVALHO (Tinop) (1908) História do Fado, Empreza da História de Portugal, pág 28.
12 RIBEIRO, Victor (1904) A História da Beneficência Publica em Portugal, in O Instituto Revista Cientifica e Literária, Vol. 51, Imprensa da Universidade, Coimbra, pág. 3.
13 PIMENTEL, Alberto (1904) A triste canção do sul (subsídios para a história do fado, Livraria Central Gomes de Carvalho, editor, pág. 246-247.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

CARRICHE

Carriche (Calçada de)

«Aldeia situada na estrada real, que de Lisboa conduz a Loures, pertencente à freguesia de S. João Baptista do Lumiar, e ao 2.º Bairro de Lisboa. 
 No fundo da calçada de Carriche houve uma hospedaria, que se intitulou Nova Cintra, e que por muitos anos se tornou moda em passeios na estação calmosa, sendo muito apreciada pelos recém-casados aí passarem a lua-de-mel, ou pelo menos o dia do casamento. Foi a 4.ª estação do antigo caminho-de-ferro Larmanjat, de Lisboa a Torres Vedras. Pouco adiante de Carriche há um largo onde a estrada se divide em dois ramais; o que segue direito, conduz à Povoa de Santo Adrião, e outras terras dos arredores de Lisboa, depois a Torres Vedras. O da esquerda vai para Odivelas, Caneças e outras povoações. A este largo se dá o nome do Senhor Roubado, que é o limite da cidade de Lisboa. O nome provém de uma capela que existe ali, com esta invocação, um padrão erigido em consequência do sacrilégio cometido em 1671, na igreja d’ Odivelas, do roubo de partículas sagradas, que o roubador veio enterrar neste local. O padrão foi assente a 5 de novembro de 1744, sendo depois construída com esmolas a actual capela.»

Esteves Pereira, João Manuel; Rodrigues, Guilherme (1906) Portugal; diccionario historico, chorographico, heraldico, biographico, bibliographico, numismatico e artístico, vol. II B-C,  Lisboa: J. Romano Torres. (pág. 794/795)