domingo, 31 de janeiro de 2016

Restaurante Típico "PATRÍCIO" (1949-1957)

Este restaurante foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1949, no edifício do antigo “Retiro da Ti Jaquina”, completamente remodelado, com várias salas para banquetes e uma aprazível esplanada. 
Ficava situado no “Casal do Olival Basto”, como era designado na época este lugar, ao 1.º quilómetro da estrada de Loures, junto à ponte sobre o rio. Tinha uma sucursal na Feira Popular de Lisboa, na Avenida Mandarim, frente ao lago, com diversos pratos regionais e os apreciados franguinhos no espeto.
Uma das proprietárias deste restaurante foi a fadista Lina Maria Alves, irmã da atriz Laura Alves.
Os novos proprietários do “Retiro da Ti Jaquina” pretendiam manter as tradições do passado, numa casa de pasto, onde se serviam banquetes e se cantava o fado todas as noites até ser madrugada. Também havia música para dançar, com a orquestra privativa ”Vida Nova”.

(1950) Diário de Lisboa, nº 10059, Ano 30, 30 de Novembro, Fundo Documentos Ruella Ramos, 
Arquivo Fundação Mário Soares

Alguns fadistas conceituados iniciaram aqui as suas carreiras.
A 14 de dezembro de 1950 estrearam-se neste restaurante Mariana Silva, conhecida como "a miúda do Alto do Pina" e Alfredo Duarte Júnior, filho do consagrado fadista Alfredo Marceneiro.
Em maio de 1952 o elenco artístico era composto pelos artistas privativos: Lina Maria, José da Cruz e Isaura Gonçalves.
Fernanda Maria empregou-se neste restaurante para servir às mesas e aqui começou a cantar o fado. Em 1953, com 16 anos já fazia parte do grupo dos fadistas.
Cantaram também neste restaurante outros fadistas conhecidos: Manuel Fernandes, Adelaide Cardoso “A miúda de Alfama”, Maria da Saudade, Maria da Conceição.
Também tocaram aqui excelentes músicos acompanhantes de fado: António Bessa, José Marques, Nicolau Neves, João Vieira, Carlos Neves, Américo Silva, Acácio Rocha e José Fontes Rocha.
Pela gerência e direção artística passaram também fadistas conceituados fadistas: Manuel Fernandes (1950), Lina Maria (1952), Luís Filipe (1.º semestre de 1956) Moniz Trindade (2.º semestre de 1956) e Mário Paninho (1957).
A ementa deste restaurante era constituída por pratos regionais dos quais se destacam: o Franguinho assado no espeto, o cabrito no forno e o coelho à caçadora.
Esta era a imagem do edifício do Restaurante "o Patrício", já num estado bastante degradado, no final dos anos sessenta do século XX.

 Fotografia de João Goulart, 1968, Arquivo Municipal de Lisboa

Ao fundo da antiga estrada Lisboa Loures, à saída do Olival Basto
Fotografia de João Hermes Cordeiro Goulart, 1969, Arquivo Municipal de  Lisboa

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Casa dos Caracóis da Calçada de Carriche (1960 - 1967)

Nos anos 60 do séc. XX, Alfredo António Esteves, conhecido como o Ti Alfredo da Seara, por ter nascido no lugar da Seara, em São Martinho de Coura, estabeleceu-se com a “Casa dos Caracóis” no nº 109 A da Calçada de Carriche.

Era uma taberna castiça, instalada num edifício antigo de um só piso, com um recinto que servia de esplanada, no mesmo lugar, onde tinha existido um lendário retiro de fado, na quinta de Nova Cintra. 

Este era um lugar por tradição consagrado ao fado, frequentado pelos apreciadores de petiscos e de um bom vinho.

Fotografia de Artur João Goulart, 1965, Arquivo Municipal de Lisboa

Um dia encerrou as suas portas, devido às fortes cheias da noite de 25 de novembro de 1967, que atingiram de forma dramática esta zona da cidade de Lisboa, destruindo os haveres e os sonhos das gentes que ali se tinham estabelecido.

Após as cheias de 1967, o edifício foi condenado à demolição, porque a Câmara Municipal tinha um projeto de alargamento da Calçada de Carriche. 


Em 1971, ainda se mantinha em pé, mas já estava muito degradado.



Fotografia de autor não identificado, 1971, Arquivo Municipal de Lisboa


Fotografia de Goulart, João Hermes Cordeiro Goulart, Arquivo Municipal de Lisboa

Mas o Ti Alfredo da Seara e a sua mulher D. Albertina Gonçalves da Costa, não se renderam ao fatalismo. Tinham aprendido desde muito cedo a lutar pela vida e decidiram começar tudo de novo. Abriram outra “Casa dos Caracóis”, uns quilómetros mais para norte, na Póvoa de Santo Adrião, que nessa época ainda era uma zona rural de quintas e olivais.

Voltou assim a renascer a “Casa dos Caracóis", na Rua Marechal Craveiro Lopes, 9 A, na Póvoa de Santo Adrião. 

E ainda hoje lá existe.

Fotografia de Filomena Viegas, 2008