quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Restaurante Típico “Lobos do Mar” (Antigo Solar do Marceneiro)

O restaurante típico "Lobos do Mar" abriu portas por volta de 1955, na casa onde tinha existido anteriormente o "Solar do Marceneiro".

Ficava situado ao fundo da Calçada de Carriche, na estrada que segue para Odivelas, junto ao monumento do Senhor Roubado, na localidade de Olival Basto. Este era um lugar consagrado ao fado.

                     

(1957) Diário de Lisboa, n.º 12328, Ano 36, terça-feira, 2 de Abril de 1957, Fundo: DRR - Documentos Ruela Ramos, Arquivo Fundação Mário Soares.

O nome "Lobos do Mar" faz lembrar um filme americano (Captains Courageous, no título original) realizado por Victor Fleming em 1937, baseado num livro de Rudyard Kipling de 1897. É um drama que tem como cenário a pesca do bacalhau nos Mares da Terra Nova e conta a história de um jovem, filho de um milionário nova-iorquino, que é salvo de um naufrágio, por um pescador português, depois de um desastre marítimo num paquete de luxo, onde faziam um cruzeiro. A bordo de um barco de pesca, com o pescador português, aprende o jovem a gostar das coisas simples, na vida dura do mar.

"Lobos do Mar" é também o nome de um fado tradicional (Fado Margarida) cantado pelo fadista Frutuoso França, com letra de Francisco dos Santos e música de Miguel Ramos, que conta a história de um rapazinho, que foi salvo numa praia, por um pescador.


Ouvir o fado no site: https://www.youtube.com/watch?v=lQSA3D-fI-8


"Lobos do Mar" apela a uma relação lendária do fado com o mar, a viagem.

Faz-nos recordar o "Fado Português" de José Régio.

O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava… 

(José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo')

Embora neste lugar não houvesse a proximidade do mar, existia uma relação com a vila da Nazaré. Neste restaurante típico havia fados e danças regionais aos domingos com um rancho folclórico da Nazaré.

Neste recanto tradicional do fado tocaram excelentes músicos, como: o popular acordeonista Isidro Baptista, o guitarrista Carlos Gonçalves, e o violinista e guitarrista José Inácio, que também cantava o fado.

                                           

Isidro Baptista (natural de Torres Vedras, 1929-1979) foi um exímio acordeonista português, que iniciou a sua carreira musical neste restaurante, tendo alcançado fama por todo o país nas décadas de 60 e 70 do século XX.



Carlos Gonçalves (natural de Beja, 1938)
«Em 1957 quando se desloca para Lisboa, Carlos Gonçalves entra na vida artística mercê da sua destreza técnica, que lhe permitiu imediatamente acompanhar grandes fadistas da época, tendo sido contratado para a "Adega da Anita" de onde passou mais tarde para os "Os Lobos do Mar”, na Calçada de Carriche, acompanhando muitas das grandes figuras do Fado, entre as quais Alfredo Marceneiro, Filipe Pinto, Maria Teresa de Noronha. Lucília do Carmo, Argentina Santos, Fernando Maurício, Fernando Farinha, Fernanda Maria e Beatriz da Conceição.»
(Site Oficial de Carlos Gonçalves   http://www.carlosgoncalves.com.es/12/pt_main_12.htm)


José Inácio (natural de Idanha-a-Nova, 1928-2015)

Era funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, mas tocava frequentemente em diversas casas de fado de Lisboa: Café Salvaterra, Retiro dos Marialvas, Patrício, Lobos do Mar, Tradição, Pampilho, Retiro da Bairrada, Parreirinha do Rato, Nau Catrineta, Viela, Solar da Hermínia e também na “Tipóia”, Ritz Club, Cristal e Olímpia.
(Site Museu do Fado: 
http://www.museudofado.pt/personalidades/detalhes.php?id=317 )



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